Um momento a agradecer a Deus.

Um momento a agradecer a Deus.
Conduzir a tocha Olímpica foi um presente de Deus

quinta-feira, 24 de março de 2011

Noite mágica de futebol e emoção. Valeu Geovani

Houve em 1989 uma noite mágica. Dois times disputavam o segundo jogo das semifinais do campeonato brasileiro do ano anterior. Isso mesmo, um jogo que começou com o embaraço do tempo e que parecia não querer acabar nunca.

Vasco e Fluminense não foram campeões de nada naquele dia e nem mesmo alcançaram tal feito nas partidas seguintes. O Bahia foi o campeão brasileiro de 1988. No entanto, tricolores e cruzmaltinos saíram do Maracanã tendo ajudado a escrever uma história épica do nosso futebol.

As legiões romanas, os grandes pelotões de exércitos poderosos também devem ter travado batalhas que poucos viram e que a História pouco as menciona. Em geral, as batalhas finais são as preferidas e mais lembradas.

Vasco e Fluminense daquela noite é uma dessas batalhas ocorridas no meio da guerra. O Flu de Ricardo Gomes, Delei, Assis e Washington vinha de uma vitória no primeiro jogo sobre Leonardo, Geovani, Bismark e Roberto Dinamite – os heróis vascaínos.

O regulamento do brasileiro de 88 era tão estranho quanto seu o calendário e previa que o Vasco só se classificaria se ganhasse o jogo duas vezes no partida de volta. Mas como assim?? Isso mesmo, era necessário ganhar no tempo normal e na prorrogação.

Mas vamos aos fatos do campo de jogo. Logo na primeira partida, a situação ficou difícil para o Vasco, que tinha em seu time um jogador de nome Zé do Carmo. Negro, nordestino e espirituoso, Zé era cabeça de área e fazedor contumaz de gols contra. E justamente na primeira partida das semifinais, o artilheiro suicida deixou sua marca nas redes vascaínas. O problema é que naquela época, o Vasco vivia uma fase de grande dificuldade em vencer o rival das Laranjeiras. Em várias ocasiões, depois de dominar o jogo inteiro, no último minuto, o Vasco levava um golzinho sobrenatural que definia a partida a favor do Fluminense. Ou seja, se já era difícil vencer o bom e sortudo time do tricolor, com o fogo amigo, a tarefa ganhava contornos dramáticos. Com isso, o Vasco saiu do primeiro jogo em desvantagem paro o segundo.


No segundo encontro, fui ao Maracanã com meu pai. Eram tempos de rivalidade intensa, porém sadia. As duas torcidas entravam por qualquer uma dos dois acessos ao estádio. Eu morava próximo à rampa do Belini e essa era sempre a minha opção de entrada. Quando chego ao Maraca, vejo uma enorme confusão e apenas camisas do Vasco a frente do portão fechado e guardado por PMS. Para minha surpresa, mesmo em desvantagem na decisão da vaga, a torcida do Vasco era maior. Piorando a situação, não havia mais ingressos nas bilheterias. Formado o tumulto, enquanto a massa vascaína forçava o portão para entrar, chega a notícia do gol do Flu. Zé do Carmo, dessa vez não fizera contra, mas errou feio e possibilitou o gol do tricolor feito por Donizete.

Mesmo assim, num vacilo do cordão de PMS, a galera furo bloqueio e sobe a rampa em disparada e gritando o nome do Vasco. Na arquibancada, no lado da nossa torcida não cabia mais ninguém e acabei assistindo ao jogo apertado no último degrau das arquibancadas. Quase no fim do 1º tempo, o Vasco empata o jogo numa bela jogada de Roberto Dinamite e forte finalização de Bismark.

No segundo tempo, massacre do Vasco com atuação magistral de Geovane, o pequeno príncipe da colina. No entanto, a escrita e o talento de Paulo Vitor (goleiro do Flu) impediam o gol vascaíno. Atacávamos e nada do gol sair. A torcida do Vasco empurrava o time para o ataque, mas pairava o temor pelo resultado pior.

No último minuto de jogo, o juiz transforma em falta na marca da grande área um penalty claro a favor do Vasco. Confirmado o roubo, o juiz coloca a bola na linha da área para que o Vasco cobrasse apenas uma falta. O que eu vi nos minutos que cercaram esse lance nunca saiu da minha cabeça e acabou de forjar minha paixão desenfreada pelo Vasco.

A eminente desclassificação transformou o final do segundo tempo num desespero. O Vasco atacava sem parar e havia acuado o Fluminense em seu campo. O penalty não marcado soou como um tiro de misericórdia nas pretensões do Vasco. Foi quando o talento de Geovani colocou aquela bola da falta na cabeça de Leonardo que viera correndo como um louco desde o meio campo. A cabeçada saiu como uma bomba e explodiu na rede de Paulo Vitor. Gol do Vasco de forma sobrenatural.

Poucos se davam conta de que ainda era preciso ganhar mais uma vez. Mas a prorrogação chega, com a torcida vascaína em delírio. Vi homens chorando e se abraçando. Dois senhores infartados foram retirados na maca pelos bobeiros. Um cadeirante caído ao chão chorava de alegria e emoção, enquanto eu corria de um lado para o outro gritando sem parar.

Num relance, o Fluminense faz um gol e logo em seguida, Washingto faz outro, numa jogada sensacional. O artilheiro do casal 20 arrancou pelo lado esquerdo da defesa vascaína e aplicou três cortes seguido no goleiro Acácio que ficou caído ao chão, desolado e vencido pelo talento e força do Fluminense. Flu classificado e Vasco, apesar da eliminação, mostrou a todos o quanto o futebol é mágico e emocionante. Perder naquele dia foi ruim, mas a lembrança daquela partida é uma das maravilhas da minha memória pessoal vascaína. Valeu Geovani.

O sofrimento no Japão e os paradigmas da vida atual

O desequilíbrio promovido pelo homem no planeta ficou evidente na tragédia do Japão. Não me refiro à emissão de CO2 no espaço, ao descaso com o lixo produzido diariamente e com as conseqüências que isso nos trará. Meu pensamento foi mais longe no tempo. Fui ao ato fundador da capacidade humana de se erguer, andar e pensar de forma distinta das demais espécies que habitavam o planeta. Daí por diante, o jogo passou a ser desigual. Tudo nos parecia favorável, mas o jogo vai dando sinais de quem será o verdadeiro perdedor.

Nossa presença no território é naturalmente destruidora do equilíbrio encontrado pelo homem onde quer que ele chegue. Não existe espécie do mesmo porte que o nosso em número equivalente à presença humana na terra, principalmente na forma de concentração em que convivemos. Nosso alimento vem de produções em larga escala em fazendas e frigoríficos. Aquecemos nosso corpo, ou o refrescamos com máquinas de mudar o tempo. Moramos onde não poderíamos morar. Transformamos em energia substâncias retiradas do planeta. Tudo isso em escala de bilhões. O sistema funciona no fio da navalha e as catástrofes se encarregam de nos mostrar essa fragilidade da pior forma possível – com dor e sofrimento.

E agora, o que fazer com uma usina nuclear prestes a explodir? Como recompor hectares de terrenos devastados em tempo célere suficiente para recompor a vida nos termos anteriores à tragédia? Causou-me perplexidade observar japoneses se aquecerem ao lado de uma fogueira improvisada.

Certa vez, por coincidência do destino, deparei-me com duas fotografias de aspectos muito parecidos, mas que continham informações completamente diferentes. Uma era a mancha da progressão de um câncer num órgão. A outra era a mancha da ocupação de uma comunidade numa cidade ao longo de dez anos. As manchas eram parecidas e ambas continham frentes de desenvolvimento desordenados e intensos. Seria vingança do equilíbrio corrompido, ou seria mera coincidência? O problema é que a dona do órgão fotografado faleceu daquele câncer e a tal comunidade sofria com falta de transporte, saneamento básico, água e nela a miséria e a morte imperavam. A mulher com câncer e o território se deteriorando: males da natureza humana, uma individual e a outra coletiva.

Pensamos em preservação do Planeta e isso é fundamental, mas precisamos repensar métodos de vida e seus limites. Não é possível viver nas condições que vivemos. Isto só se mantém para poucos às custas da miséria da maioria. A missão dos governantes é encontrar saídas para crise e não apenas encontrar planos de resgate de sobreviventes e reconstrução de cidades.

O ser humano precisa repensar sua relação com o planeta para manter as condições no único lugar onde comprovadamente podemos viver no universo – a Terra!!

Novos Campeões brasileiros com antigas taças. agressão à história do futebol brasileiro

A recente decisão da CBF de equiparar os títulos de campeão da Taças Brasil e Roberto Gomes Pedrosa ao atual campeonato brasileiro consiste, entre outros aspectos negativos, num caso de afronta à memória do desporto nacional.

Em primeiro lugar, não é concebível comparar o atual modelo de disputa do Brasileirão com as duas competições em questão. Pior ainda, é reconhecer dois títulos nacionais com importância equivalentes no mesmo ano. E foi justamente isso que fez a CBF ao considerar campeões brasileiros do mesmo ano os clubes que venceram o Robertão e a Taça de Prata. É como se hoje, o campeão da Copa do Brasil tivesse a mesma importância do campeão brasileiro. No entanto, estes são aspectos técnicos e desportivos do problema e, neste artigo, prefiro a abordagem da defesa da memória do futebol brasileiro.

Quem tem mais de 30 anos sabe exatamente o valor dos campeonatos regionais até meados da década de 80. Motivo de orgulho para o torcedor era ser campeão carioca ou paulista. Atualmente, ocorre o inverso. Os meninos de hoje querem ser campeões brasileiros, da Libertadores e do mundial da FIFA. No lugar dos confrontos de botões de Vasco e Flamengo, duelos virtuais entre Real Madrid e Milan no vídeo game. Quanto à isso, não há problema. Tudo bem, afinal, cada tempo com suas alegrias e agonias.

Eis então, com tantas diferenças de percepções e sentimentos entre fatos separados por mais de 40 anos, que num passe de mágica tirado da cartola, a CBF fez de competições menores em seu tempo um gigantismo artificial atual. O Santos de Pelé tornou-se uma lenda principalmente por seus seguidos títulos paulistas e não por suas glórias nas duas taças “nacionais” agora vitaminadas. Suas maiores glórias internacionais se deram no Maracanã, algo inimaginável no ambiente atual de rivalidade exacerbada entre os times do Rio e São Paulo. O Fluminense foi maior com a inesquecível Máquina Tricolor do que na jornada de 1970 na Taça Brasil. Quando eu era menino, ao defender o meu Vasco da empáfia e orgulho da torcida rubro negra na era Zico, de nada adiantava eu lembrar o primeiro título brasileiro alcançado em 1974. Os rivais diziam que o brasileiro era menor que Estadual. E era!!

Foi bacana ver Pelé com medalhas ao peito registrando para sempre os 6 títulos brasileiros que ele conquistou. Mas, fica a pergunta: por um acaso não foram distribuídas medalhas por ocasião das conquistas de outrora? Não havia troféus para os vencedores? Os louros intempestivos de hoje tentam inverter os fatos, mas os verdadeiros feitos épicos dos nossos times há mais de 40 anos estão vivos na memória dos torcedores veteranos. O polêmico gol de Valido, em 44, no tricampeonato rubro negro. O Fla x Flu da Lagoa. O gol vascaíno com sabor de Cocada em 88. Maurício fez explodir a agonia botafoguense após 21 anos de fila no estadual. Quem não se lembra do antológico gol de Basílio em 1977 com a camisa do Corinthians? Rondinelli em 78. Assis - o carrasco tricolor por duas vezes no início dos anos 80. O Bangu de 66, o América de Edu em 60. Estas são as maiores memórias dos clubes do futebol brasileiro daquela época. Portanto, deveriam ser destacadas, preservadas de forma a contar a história do nosso esporte em sintonia com a verdade. Dando a César o que é de Cesar e aos Clubes o que de fato ele conquistaram. Falseando a história, ninguém entenderá a razão da antiga grandeza de América e Bangu, ou o motivo de Bonsucesso, Portuguesa e Madureira terem feito excursões à Europa para jogar contra grandes clubes.

O casuísmo e a busca desmedida pelo Poder costumam fazer vítimas. A memória vive sofrendo atentados ao longo da história. No esporte, principalmente nos mais populares, não é simples fazer isso. Há paixão exacerbada e milhões sorriram e choraram com gols e jogadas inesquecíveis. Porém, a morte das gerações que lotaram os velhos estádios ajudará no inevitável esquecimento que acaba levando à distorção dos fatos ocorridos. Perdem-se as fontes primárias, há influência de elementos novos ao longo do tempo e isso é natural. Anormal e criminoso é tentar refazer com a força da caneta uma nova história.

Cabe ressaltar que a expressão da memória se realiza com elementos do agora e sobre o fato ocorrido há inexoráveis elementos da percepção do presente, da política e do poder contemporâneos. O contra ponto que equilibra o resultado dessa influência é argumento histórico e a compreensão dos fatos como eles se deram na sua origem.

Neste caso do reconhecimento dos títulos em questão, a impressão positiva que inicialmente é gerada aos clubes que tiveram títulos reconhecidos mascara os mais deslavados interesses políticos e econômicos. É contra isso que a rejeição à decisão da CBF se faz necessária.

As lambanças não terminam por aí. Ademir Marques de Menezes foi menor que os novos campeões repaginados? Friedenreich não foi um mestre na arte de fazer gols? Zizinho, Didi, Vavá, Leônidas e Garrincha não foram grandiosos? Senhores cartolas dos clubes favorecidos, por favor, até vendam suas consciências, mas não troquem suas posições políticas por taças e medalhas de lata. Exijam, no lugar de títulos artificiais, a valorização das maiores conquistas do passado. Enalteçam e valorizem os craques de outrora com a justa homenagem que suas vitórias merecem. Que sejam lustradas as taças conquistadas e que as mesmas não sejam substituídas por outras novinhas, porém sem o brilho da conquista verdadeira.

Salve o futebol brasileiro centenário, criativo, vencedor e dono de uma história linda que não merecia ser manchada por resoluções casuísticas. Meia dúzia de bolinhas não é maior que as conquistas alcançadas em campo. É preciso investir na memória do futebol brasileiro, com museus e arquivos comprometidos com a história de nossos clubes e incentivar a pesquisa histórica nesse campo. Quando isto ocorrer, o episódio dessa distribuição de novas velhas medalhas será melhor contada e boas gargalhadas serão dadas. Ou não, depende de nós.