Dias antes do início das manifestações que estão tomando
conta do país, era inimaginável que o
país seria varrido por atos com as dimensões e formatos que estamos vendo.
Acompanho e participo de manifestações há mais de 25 anos.
Vi as Diretas Já, as mobilizações da Constituinte de 88, o Fora Collor, as
lutas contra o projeto neoliberal e nunca vi nada parecido com o que estamos
vendo atualmente.
Fica evidente a insatisfação da população de forma
generalizada. Mas tem sido difícil saber com exatidão o que fazer para atender
ao clamor da massa. Diminuíram as tarifas dos transportes. Não foi suficiente.
Não é por 20 centavos, é pelo meu futuro – dizem os manifestantes. Enquanto
isso, centenas de manifestantes apedrejam e quebram bens públicos. Que futuro é
esse mesmo? Aonde querem chegar?
Houve gerações que sonharam tomar o Poder e instituir uma nova sociedade para aí sim fazer
as transformações sociais que desejavam. As passeatas atuais levantam muitas bandeiras
pontuais, mas parecem órfãs de um projeto de futuro. Mudar como e com quem?
Acham que não precisam de ninguém. Nenhum Partido me representa, você não me
representa, ele não me representa, dizem os manifestantes. Quem os representa?
Como são, ou serão escolhidos? Pela força, no Facebook, ou no Twitter?
A mídia tenta fazer uma distinção no público das passeatas.
Vândalos e bem intencionados. Nas manifestações de outros tempos, todos, sem
exceção, eram baderneiros: jovens, professores, servidores públicos e qualquer
outro que se opusesse ao sistema. O que
mudou?
Por que a luta do MST e dos sem teto só tem baderneiros e
não há legitimidade em suas reivindicações? Greve nem pensar. Luta de
classes... isto não existe mais. O
capitalismo é a única saída. Quem defende tais idéias observa as manifestações com
um olho na missa e outro no vigário. Vai que a passeata se vira contra o
sistema e não só contra os políticos que eles querem ver liquidados. Demonizaram
os partidos, as entidades da sociedade e, agora, tentam “dirigir” o movimento
pela TV.
Há um impasse no momento político atual. Há milhares de
cartazes com bandeiras diversas, mas as únicas que tremulam na TV são as que
agradam as elites. Por mais que queiram dividir os manifestantes, acho que vai
crescer o apoio velado ao quebra - quebra. Sempre haverá bandeiras não
atendidas.
Fica a preocupação. O que surgiu inesperadamente vai
crescendo em volume e dúvida quanto ao seu desfecho e conseqüências. Eu quero
um mundo melhor, acredito na revolução e na minha mente ela sempre foi
socialista. O que querem os milhares nas ruas? O que vamos oferecer a eles? E
como??