Um momento a agradecer a Deus.

Um momento a agradecer a Deus.
Conduzir a tocha Olímpica foi um presente de Deus

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O Resultado do Time Brasil. Um Legado da Rio 2016.



Terminados os Jogos Olímpicos do Rio, ganha espaço o debate sobre o desempenho do Time Brasil. Tenho lido alguns artigos que criticam duramente o resultado obtido e apontam a concentração de investimentos em poucos atletas como um erro. Este argumento junta-se ao antigo discurso de falta de apoio à ampliação da base. Paradoxalmente, a questão do investimento e o excesso de dinheiro viraram polêmica. Uns dizem que não faltou apoio, portanto não se justificaria o não cumprimento da meta do top 10.  Ao mesmo tempo, persiste a acusação de não haver investimento no esporte. Quero apresentar algumas impressões que tenho do tema. 


Estive diretamente envolvido no processo de decisão do caminho que Governo Federal deveria adotar para os ciclos olímpicos que antecederam os jogos. Enganam-se os que imaginam que houve decisão por investir somente no topo. Ocorre que não havia hipótese de não oferecer as melhores condições de preparação a quem tinha maiores chances de obter os melhores resultados. Mesmo se tivéssemos escolhido aumentar a base, um resultado pífio seria péssimo para o país e para o próprio desenvolvimento esporte, visto que o resultado serve de inspiração e motivação para as gerações futuras aderirem à prática do alto rendimento. E mais, um desempenho ruim seria alvo de críticas da sociedade e frustração da nossa população. 


Enganam-se também os que dizem não ter havido discussão e planejamento na elaboração dessa política, pois ela foi fruto das resoluções das Conferências Nacionais de Esporte – o mais democrático fórum do esporte brasileiro. No Alto Rendimento, em 2009, a Secretaria Nacional de Esporte de Base e de Alto Rendimento do Ministério realizou seu planejamento estratégico tendo ouvido especialistas e em alinhamento com o Comitê Olímpico Brasileiro. O mesmo planejamento passou por mais duas atualizações ao longo de sua execução, sempre de olho na evolução dos resultados obtidos. 


Mesmo não tendo atingido a meta do Top 10, alcançamos a melhor colocação na história dos jogos com 19 medalhas (7 ouros, 6 pratas e 6 bronzes), ficamos em 13º lugar a três posições do Canadá, que alcançou 22 (4 ouros, 3 pratas e 15 bronzes) e terminou em 10º lugar. É preciso destacar a variedade das modalidades em que medalhamos. Essa foi outra decisão estratégica do país de garantir diversidade esportiva e a não concentração em poucos esportes que tivessem muitas medalhas em disputa. Outro dado significativo foi o número de participações em finais. Foram 71 no Rio contra 36 em Londres, um crescimento importante. Evolução ocorrida também em resultados inferiores que não asseguraram finais, mas que expressam a evolução do esporte em cada modalidade. O Handebol masculino é um bom exemplo disso. 


Houve polêmica também com relação aos atletas das Forças Armadas e é preciso compreender o significado desse fenômeno. Esse é um caso de parceria bem sucedida no esporte. Conjunção de esforços de civis e militares, com recursos do Ministério da Defesa e do Ministério do Esporte, num ambiente esportivo de tradição no esporte brasileiro que foi trazido mais para o centro das políticas esportivas de alto rendimento do país. Tudo isso foi feito em debate com as Confederações e o COB. Nada foi feito de maneira individual ou desconectada do conjunto da obra. É importante lembrar que as Forças também aderiram ao Programa do Segundo Tempo, num evidente gesto de troca de experiências e oportunidades para além do alto rendimento.


Quanto ao investimento na ampliação da base, na difusão do esporte na escola e na infraestrutura esportiva para treinamento na iniciação e descoberta de talentos, não procede a informação de que não houve avanços. O Governo Federal destinou a centenas de grandes cidades mais de 900 milhões para construção de Centros de Iniciação ao Esporte. O Programa Segundo Tempo ofereceu iniciação esportiva a milhares de crianças. O MEC construiu e reformou quadras esportivas em escolas de todo país. Os Clubes passaram a receber verba exclusiva das loterias para investimento justamente na iniciação esportiva - uma antiga reivindicação de um setor que sofria com escassez de recursos e possui enorme potencial em função do papel destacado que sempre desempenhou. A Lei de Incentivo ao Esporte foi uma conquista recente do setor e trouxe recursos novos que são investidos no alto rendimento em suas mais variadas etapas no Brasil inteiro. 


Já o programa Brasil Medalhas e os Editais do Ministério do Esporte que materializaram a concentração de recursos no Time Brasil também deixam um legado para estágios iniciais do alto rendimento. Viagens, compra de equipamentos, contratação de treinadores estrangeiros, participação em competições internacionais, remuneração de equipe multidisciplinar representam também qualificação dos profissionais e dos nossos treinadores. É preciso ver esses investimentos como legados do conhecimento para o treinamento dos futuros atletas. Ressalte-se que não houve nada realizado sem decisiva participação das Confederações que envolveram seus técnicos e atletas na elaboração na programação de treinamento.


A Rede Nacional de Treinamento está ganhando forma em todo o país, com equipamentos modernos construídos para diversas modalidades que devem dialogar com entidades do desporto e os três níveis de governo, tanto na formulação das estratégias, quanto no seu financiamento e execução. 


Houve aperfeiçoamento dos mecanismos de destinação de recursos, com maior controle e transparência. Passou-se a exigir contratos de desempenhos para assinaturas de convênios que exigem definição e cumprimento de metas esportivas. Mesmo que ainda não tendo sido efetivado na prática tal contrato, a lei está aí para ser cumprida. Ou seja, um ambiente de maior organização e transparência deve e pode aproximar patrocinadores através, principalmente, das leis de incentivo. 


O Programa Bolsa Atleta consolidou-se como importante instrumento para manutenção do atleta no esporte e é um programa com base tão somente nos resultados dos atletas, livre de qualquer ingerência política, ou indicação subjetiva indevida. 


Cabe registrar que muito ainda preciso ser feito. A efetivação do Sistema Nacional do Desporto é essencial. Sem ela não conseguiremos definir responsabilidades de gestão e investimentos e continuaremos a ver a concentração de investimentos na mesma direção. União, Estados, Municípios e iniciativa privada devem ter papéis complementares. Entidades do Desporto, Clubes, Escolas e Universidades precisam dialogar e atuar integradamente. Esse é o segredo para a implantação de um time que poderá atuar entrosado no fomento e no desenvolvimento do esporte. 


Por fim, deve-se considerar o atraso histórico do país nessa área. O desempenho sempre muito fraco até o final dos anos 90, com pouquíssimos recursos e níveis de organização muito frágeis. A tarefa é dura e a política de esporte deve ser vista como política pública continuada e de estado, livre de recuos decorrentes de visão partidária e de ocasião. Esse é o segredo. No mais, devemos parabenizar atletas e profissionais que se envolveram na preparação do Time Brasil 2016. São nossos heróis.