A derrota de ontem terá milhões de editorias, matérias,
livros, documentários e vai servir de inspiração e motivo para muitas resenhas.
E eu não posso ficar der fora dessa avalanche de opiniões que começou ainda
durante o jogo.
O que se viu em campo foi uma humilhação técnica e tática.
Uma equipe com tamanha superioridade que, talvez em respeito ao futebol brasileiro
e à nossa torcida, tirou o pé do acelerador e deixou barata a vitória por sete a
um. O que vimos no jogo de ontem foi o desvendar da realidade do futebol
brasileiro. Por mais triste que eu esteja, não posso deixar de ver um lado
postivo por ter havido um placar tão elástico, pois ele não deixa dúvidas.
Tenho reiteradamente escrito sobre a péssima qualidade do
nosso futebol. O que vemos é a baixíssima qualidade dos nossos jogadores e
táticas defensivas que inibem o talento. As divisões de base dos clubes deixam
de fora jovens talentosos e priorizam os mais fortes e cumpridores das
determinações táticas de seus treinadores. Com isso, foi sendo banido do
futebol brasileiro o talentoso, o criativo e o inovador. Neymar é o ponto fora
da curva em nosso futebol. Há vinte anos, seria um entre muitos.
Do ponto de vista tático, desde meados dos anos 80, a escola
gaúcha vem emplacando inúmeros técnicos em nosso futebol. Os pampas já nos
deram Falcão, Mengalvio, Renato Gaúcho, Ronaldinho Gaúcho e Grêmio e Inter são
clubes maravilhosos, mas a tal escola a que me refiro é a da aplicação tática,
da forte marcação e da garra. Com todo respeito, não foram esses aspectos que
nos alçaram à condição de país do futebol arte. E há quem defenda o Tite como
substituto do Felipão.
No entanto, para além desses motivos técnicos e táticos,
existe uma questão de ordem política e financeira. As Leis Zico e Pelé colocaram
nossos clubes centenários na lona. Os empresários viraram os donos dos
departamentos de futebol dos clubes. Em associação com empresários
internacionais e com clubes europeus, esses caras aliciam jovens promissores e
os clubes brasileiros viraram reféns desse processo. A derrota de ontem é o
efeito prático de vinte anos de uma legislação danosa ao nosso futebol.
O futebol mundial, seguindo a lógica capitalista de concentração
de riqueza, vai forçando a mão para que o número de clubes protagonistas seja
diminuído. Ocorre, no entanto, que Espanha, Itália e Inglaterra (principais países do sistema do
futebol internacional) juntos não possuem as dimensões do Brasil e nem a nossa
diversidade.
O assassinato de clubes no Brasil vem da década de 90. Mataram
os pequenos daquela época, os médios estão indo e começou a depuração dos
maiores. Vide a distribuição de cotas de TV no Brasileirão. Imaginem se esses
caras vão querer que um estado como o Rio de Janeiro tenha 4 grandes clubes em
pé de igualdade com os deles…. Na década de 60, o América do Rio excursionava
pela Europa recebendo cotas para disputar amistosos internacionais. Em meio à
atual Copa do Mundo, o Mequinha anunciou o fechamento de sua sede social.
Enfim, muita coisa ainda será dita sobre esse jogo de ontem.
Este artigo não terá força para mudar nada. Mas, dou aqui minha humilde
contribuição e faço meu desabafo como torcedor apaixonado que sou. Para virar o
jogo de ontem, o Brasil precisa de 7 gols. Vamos a eles:
1 - Recolocar o
talento na ordem de prioridade técnica;
2 – Retomar a vocação ofensiva do nosso futebol;
3 – Modificar a lei Pelé;
4 – Romper com a subordinação do nosso futebol aos
interesses internacionias;
5 – Fortalecer os clubes brasileiros;
6 – Moralizar e modernizar a gestão dos nossos clubes;
7 – aproveitar a derrota para dar a volta por cima.
Fico na torcida.